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Meio Ambiente

Em meio urbano, as pessoas em geral estão afastadas da origem e processo das coisas. Fazer uma horta é uma forma de resgatar a conexão das pessoas com as plantas e os ciclos da natureza, é entrar em contato com algo ancestral e tão essencial: produzir o próprio alimento. Interagir com esses processos pode ser transformador, promove saúde, bem-estar, senso de coletividade e incentiva as pessoas a se alimentarem melhor.

A agroecologia, sistematizada, pesquisada e praticada pela engenheira agrônoma Ana Primavesi, entende que todos os seres cumprem uma função importante na natureza. Não existe praga. As formigas, por exemplo, se fazem um formigueiro, descompactam a terra e colaboram para sua regeneração natural. Se estão atacando a horta, estão sinalizando que determinada planta não está saudável, pois o solo não está suprindo suas necessidades. O que devemos fazer, como bons agricultores, não é jogar veneno e matar a formiga, mas sim, agradecer pelo serviço dela, interpretar sua mensagem e fazer algo para melhorar a condição do solo. Solo saudável, significa planta saudável.

As plantas tidas como ervas daninhas, são também mensageiras que indicam condições do solo. Muitas delas inclusive são comestíveis e de alto valor nutricional, algumas medicinais.

A prática de colheita e uso dos produtos da horta na cozinha, para a alimentação dos conviventes, ou até uma colheita ou muda levada para a casa, é importante para relacionar a nutrição vegetal com a nutrição humana, contribuindo com a consciência e segurança alimentar e a noção dos ciclos. Inclusive trabalhando a seletividade alimentar: alguns passam a comer algo que não comiam antes, experimentam sabores novos, tomam chás sem açúcar etc.

Objetivos:

• Promover o bem-estar através da conexão com a natureza e com si mesmo;

• Estimular o desenvolvimento da coordenação motora integral através do uso de ferramentas de jardim diversas (pazinhas, enxada, pás, rastelo, garfo, utensílios de cozinha, carrinho, regadores etc.);

• Desenvolver a noção espacial ao preparar e manejar os canteiros e plantar mudas no espaço apropriado, além da movimentação no espaço externo e nas rodas lúdicas;

• Estimular as percepções sensoriais através das plantas: cheiros, texturas, cores, sabores, formas;

• Desenvolver a memória e a ampliação do repertório sobre as plantas e os alimentos;

• Construir a noção de processos e ciclos ao acompanhar o desenvolvimento das plantas no decorrer do ano, até a colheita, o preparo e o consumo.

• Promover a autonomia e o protagonismo em todas as atividades e ações externas que incentivam a cidadania, o cuidado e inserção nos espaços públicos.

• Promover os valores de cooperação, respeito as pessoas, aos seres e ao planeta, valorização do diferente, consciência ambiental;

• Trabalhar a corporeidade, as escolhas e sentimentos como frustração e espera (tem planta que vinga, outra não; o tempo que leva para crescer e colher) e a responsabilidade, integração com os colegas e apropriação e cuidado de si e do entorno.

Metodologia:

As oficinas iniciam com o momento “bota dentro”, no qual é feita uma roda e alguma atividade corporal/lúdica visando conectar a pessoa ao momento presente, ao grupo e ao espaço, melhorando a concentração e disposição para a atividade do dia. Pode ser uma música temática, uma brincadeira de roda que requer atenção e resposta rápida, uma meditação para trabalhar a percepção e contemplação do espaço e dos 152 sons, exercícios respiratórios e de fonética imitando sons de animais, alongamento, dança de roda e afins.

Após esse momento, a atividade do dia é proposta conforme planejamento prévio, com atividades práticas e construtivas, que contemplam alguns eixos temáticos e projetos específicos: oficinas de plantio, manejo da horta e produção de mudas, feitas periodicamente observando as fases da lua, as estações do ano e estimulando aos conviventes a percepção do que precisa ser feito: poda, rega, plantio, adubação, colheita, cuidado com o espaço etc.; oficinas de culinária natural e/ou típica conforme época do ano, oficinas de ciclagem de matéria orgânica (compostagem e construção e manejo de minhocários); atividades de bioconstrução, escultura, pintura usando materiais naturais para contato direto com a terra e estímulo a criatividade; ações de cuidado e plantio em praça próxima ao CERII promovendo o direito a cidade, cuidado e ocupação do espaço público; jogo da memória viva construído com as plantas das hortas pelos próprios conviventes, entre outras múltiplas atividades permeadas pela permacultura e agroecologia, tendo como pilares o cuidado com as pessoas, com a terra, as trocas, o entendimento de que todos os seres tão importantes no sistema e a compreensão da natureza em ciclos.

Ao final, é destinado um tempo para organização do espaço (guardar ferramentas, limpar utensílios etc.), trabalhando a noção de cuidado e responsabilidade e um tempo livre para cada um definir o que quer fazer: continuar fazendo a atividade, conversar com os colegas, ouvir música, descansar na rede, desenhar, ficar na horta… o que queira, visando a autonomia e liberdade ao decidir por si. Assim também se trabalha os acordos coletivos: para manter essa liberdade ao final, é necessário se comprometer com o grupo e com a atividade proposta no dia, para que aconteça em harmonia.

Avaliação:

Avaliação contínua e processual, de cada convivente. O quanto e como interage com os colegas, com o espaço, com a terra e com as atividades propostas. A memória através do reconhecimento e identificação das plantas da horta pela forma, cheiro, sabor e seus usos na culinária e propriedades de chás. Identificação de sensações, como a terra seca e molhada, aprendizado de como plantar e cuidar da muda, organização espacial. Cooperação com o grupo. Manejo e coordenação motora. Autonomia, iniciativa, prazer, e contentamento ao realizar as atividades.